Cecília Seabra

Reputação é um instrumento para a coragem

3 de abril de 2024

Amy Edmondson, autora dentre outras obras do livro A organização sem medo, diz que não seria preciso coragem em uma organização sem medo. Essa foi a frase que eu escolhi para começar um workshop sobre networking transformador — estratégias para crescer profissionalmente, a convite do Movimento Vez & Voz. Compartilho nessa edição de A Comunicação Nossa de Cada Dia um pouco do que tratamos para ampliar os espaços de coragem, para que possamos fortalecer nossas relações e ampliar nossos olhares — você, a partir do que deixo aqui; eu, a partir da sua contribuição quando terminar a leitura.

Vem comigo?

Por que isso é importante

A partir do nosso posicionamento, conseguimos ampliar espaços de circulação. E o networking é uma ferramenta poderosa para utilizarmos de maneira estratégica e intencional para construir esses espaços. 

É pelo contato com pessoas que identificamos como aliadas que conseguimos avançar, seja na construção de relacionamentos, ou da negociação de projetos que nos permitirão ampliar capacidades profissionais. No entanto, é cada vez mais comum vermos contatos de mão única. 

Falar sobre networking é falar sobre comunicação. Sobre a mão-dupla, implícita na comunicação, mas tão negligenciada. Dizemos muito e ouvimos pouco. É preciso conhecer para se colocar disponível. Escutar para identificar sinergias. Estar aberta a compartilhar para receber. E abertura é uma característica cada vez mais difícil de trabalhar em ambientes que nos incitam à competição e à meritocracia. 

 

Contextos

Comunicação é sobre o que fica de uma interação. Sem intencionalidade, não há qualquer garantia de que a mensagem principal será compreendida com a devida importância. Daí a necessidade de trabalhar assertividade. Ela deve partir, invariavelmente, da perspectiva do interlocutor, não de quem fala. 

Pela assertividade, eliminamos muitos riscos, como o da fala de empatia, a comunicação violenta, assédios, sem falar nos ruídos que podem tomar conta pela falta de entendimento de que ninguém é feito das mesmas referências. 

Significa, em primeiro lugar, autoconhecimento sobre quem é você e quais os seus diferenciais, o que passa por aqueles melhores atributos que todas temos, mas também pelas fragilidades que podem nos impedir de exercitarmos nossas melhores características. Significa também entender a diferença entre realidades, assim mesmo, no plural, e percepções sobre elas. Ou estamos achando que só o que vemos e como entendemos e opinamos é que é real e importa? 

Se somos feitos de referências distintas, nossos entendimentos também são diferentes, ainda que possam ter muitas lentes em comum. 

Quando deixamos que a nossa percepção sobre uma determinada realidade assuma o protagonismo, automaticamente fechamos os sentidos para observar, escutar e compreender a outra pessoa, cenários e os contextos diversos que podem implicar em diferentes resultados para aquilo que buscamos. 

 

Para ir mais fundo

Trabalho com dois frameworks para exercício de assertividade. 

O primeiro deles, passa basicamente pela união de dois métodos: o equilíbrio de interesses, autoral, e a brevidade inteligente, de Jim VandeHei, Mike Allen e Roy Schwartz. 

Com o equilíbrio de interesses conseguimos exercitar, literalmente, os diferentes interesses em todas as relações. Basicamente nos forçar a compreender que o que é importante para você nem sempre terá a mesma prioridade para todas as pessoas. É um método para construção de consenso e zonas de intercessão. 

Já a brevidade inteligente pressupõe focar em uma coisa importante. Qual é a mensagem-chave? Qual é o objetivo? Como e o que desejo que falem sobre mim depois desse contato? Isto se aplica a todas as formas de comunicação: uma apresentação, aquela colocação em reunião, um café, um pedido de ajuda ou a oferta dela… 

Se sabemos com quem estamos falando, e isso pressupõe exercício de escuta e de empatia reais, temos clareza do por que aquela pessoa é relevante para nós e como podemos ser relevantes para ela. 

Conseguimos saber quais as nossas forças e fraquezas, bem como o que nos ajuda ou atrapalha e é que é externo às nossas capacidades. 

Dessa forma, conseguimos equilibrar a projeção da nossa imagem em elementos fortes da nossa identidade, diminuindo as chances para uma percepção distorcida e trabalhando nossa reputação como fiel da balança dos riscos nos espaços nos quais circulamos. 

Ampliando os espaços, e/ou a clareza sobre eles, ampliamos também nossa coragem para nos posicionarmos e, como consequência, crescermos. 

Já o segundo framework, também autoral, é para trabalhar no storytelling. 

A partir do conhecimento do público e de rodar o equilíbrio de interesses, vamos focar no objetivo, ou seja, a uma coisa importante, e desenhar o melhor caminho para que ela esteja comunicada. Isto passa por escolher o personagem (será um dado, uma necessidade, um resultado, destacar uma pessoa, um problema resolvido…), os pontos de conexão entre o que está sendo trazido e quem recebe (para explicitar o interesse mútuo), quais recursos vamos utilizar, que personalizações devemos ou não precisamos utilizar, que mãos-duplas podemos ressaltar, ou outros protagonismos, linguagem, tom de voz. 

Toda história pode ser contata de mais de uma forma. 

A obrigação de escolher a melhor para que sua moral seja entendida é de quem deseja contá-la. Ou não vale reclamar que depois vieram te perguntar coisas que já foram ditas… 

 

Dicas da Ceci

Para terminar, deixo aqui algumas dicas para melhorar a comunicação. Valem para networking, valem para a vida, valem para cultura, clima, governança… podem ser aplicadas individual ou institucionalmente. 

  • 𝙏𝙚𝙣𝙝𝙖 𝙘𝙞𝙚̂𝙣𝙘𝙞𝙖 𝙙𝙤𝙨 𝙨𝙚𝙪𝙨 𝙤𝙗𝙟𝙚𝙩𝙞𝙫𝙤𝙨 

Eles podem estar ligados à expansão das oportunidades de negócios e parcerias, à obtenção de insights do mercado, ao fortalecimento da visibilidade e reputação profissional, ao desenvolvimento de habilidades, estabelecimento de conexões significativas… É só parar um pouquinho e pensar em por que aquilo é importante. 

 

  • (𝙍𝙚)𝙘𝙤𝙣𝙝𝙚𝙘̧𝙖 𝙨𝙪𝙖𝙨 𝙫𝙪𝙡𝙣𝙚𝙧𝙖𝙗𝙞𝙡𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚𝙨 

Quando não sabemos quem somos e quais os nossos diferenciais,é maior a chance de ficarmos à mercê dos acontecimentos e da importância das coisas para as outras pessoas. Daí para se deixar explorar sem necessidade é um pulo bem pequeno. 

 

  • 𝘾𝙤𝙣𝙝𝙚𝙘̧𝙖 𝙨𝙪𝙖 𝙧𝙚𝙙𝙚 

As pessoas que eu quero ou preciso ter ao lado eu já tenho e preciso ativá-las, ou preciso construir esses contatos? Quando falamos sobre trabalho e carreira, é fundamental saber onde estamos, ainda que tenhamos dúvidas sobre aonde queremos chegar. 4) 𝘼𝙟𝙖 𝙘𝙤𝙣𝙨𝙘𝙞𝙚𝙣𝙩𝙚𝙢𝙚𝙣𝙩𝙚 O tempo é o que temos de mais precioso quando pensamos na nossa vida no trabalho. Se não gostamos de perdê-lo com coisas desnecessárias, por que fazer isso com as outras pessoas? 

 

  • 𝙀𝙨𝙩𝙖𝙗𝙚𝙡𝙚𝙘̧𝙖 𝙙𝙞𝙖́𝙡𝙤𝙜𝙤𝙨 𝙧𝙚𝙡𝙚𝙫𝙖𝙣𝙩𝙚𝙨 

Eles são baseados em reciprocidade. Por que aquela pessoa importa para mim? E como eu posso aportar alguma coisa de valor para ela? 6) 

 

  • 𝘾𝙤𝙣𝙨𝙩𝙧𝙪𝙖 𝙥𝙤𝙣𝙩𝙚𝙨 

Use os recursos que temos hoje à disposição para construir relacionamentos. 

 

  • 𝙀𝙭𝙚𝙧𝙘𝙞𝙩𝙚 𝙖 𝙥𝙧𝙤𝙖𝙩𝙞𝙫𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 

Admira alguém? Diga. Quer conhecer mais sobre algo? Peça. Está em dúvida? Pergunte. Promova encontros. 

 

  • 𝙑𝙚𝙟𝙖 𝙚 𝙨𝙚𝙟𝙖 𝙫𝙞𝙨𝙩𝙖 

Vivemos em um contexto de disputa por atenção e é cada vez menor a quantidade dela que conseguimos, verdadeiramente, dar às coisas. Então, é preciso ser vista para sermos lembradas. 

 

  • 𝘼 𝙩𝙖𝙡 𝙙𝙖 𝙖𝙪𝙩𝙚𝙣𝙩𝙞𝙘𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚

Não percamos tempo em criar coisas novas, sem, antes, sabermos quem somos e quais os nossos diferenciais. É essa segurança de identidade que fará com que seu posicionamento seja só seu, ainda que circule por campos já ocupados por mais gente. Afinal, somos mais de 8 bilhões no mundo, certo? 

 

  • 𝙀𝙨𝙩𝙚𝙟𝙖 𝙙𝙞𝙨𝙥𝙤𝙣𝙞́𝙫𝙚𝙡 

Não somos obrigadas a estarmos abertas a tudo o tempo todo. Mas respeito segue sendo fundamental (embora nem sempre pareça). Então, dê atenção e retribua. Você pode não conseguir atender alguém imediatamente, mas pode dizer à pessoa como está no momento e sugerir um contato em outra oportunidade, e seguir conversando. 

 

E por último, mas não menos importante, celebre em conjunto. 

 

Ninguém faz nada sozinho. 

 

Alguém abriu uma porta e você brilhou? Volte lá e agradeça. Compartilhe. Reconheça a ajuda e a importância que aquela pessoa teve para você. Mostre sua gratidão e, quando puder, retribua. Muitas vezes não será na mesma medida, mas e aquela palavra de apoio, aquele abraço virtual que seja? Um tratamento respeitoso e justo? Vale muito! 

 

Quer conversar mais sobre isso ou entender como pode trabalhar essas habilidades nas suas equipes? 

Mande um olá e vamos conversar!

A foto é de um workshop sobre comunicação assertiva e storytelling, feita via HSM Academy para heads e diretores da maior empresa de contabilidade do Brasil, em março/2024, em São Paulo, e foi tirada pelo André Alves, parceiro fundamental para que tudo corresse 100% como combinado. Valeu, Deko! 

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