Sou do tempo em que a gente usava uma caneta Bic se quisesse fazer Fast Forward ou Rewind na fita cassete. Era uma tecnologia que funcionava mais ou menos assim: retirávamos a tampa da caneta, enfiávamos a sua ponta no meio de um dos dois carretéis de fita e, manualmente, girávamos a fita magnética para frente ou para trás, caso o objetivo fosse adiantar ou voltar até o ponto exato da música que queríamos ouvir. Uma artimanha para driblar a falta de agilidade dos aparelhos de reprodução de áudio, devidamente modernizados com o passar do tempo, mas nada que se compare à rapidez com que as coisas acontecem nos dias de hoje. Vivemos em um mundo acelerado. A Era da Ansiedade. E nada me deixou mais intrigada quanto ler a matéria publicada em O Globo, esse mês, sobre a Geração Fast Forward, que fala sobre como a indústria está lidando com o ritmo frenético dos jovens de consumir cultura.
Para consumir o maior número de informações em menos tempo possível, os jovens estão assistindo a vídeos, séries e filmes no dobro da velocidade normal. A maioria não tem mais paciência para encheção de linguiça. Se o enredo tem cenas descartáveis para o entendimento da história, pulam as cenas, sem cerimônia. E há quem diga que, por conta disso, as salas de cinema já estão virando salas de tortura. Na era dos superestímulo das redes sociais, é preciso captar a atenção do telespectador nos primeiros cinco segundos de exibição ou leitura. Nada de nariz de cera. Delete tudo que você aprendeu na faculdade e vá direto ao que interessa. Nunca a criatividade esteve tão em alta.
Sempre trabalhei com geração de conteúdo e, mais recentemente, tenho me dedicado a escrever biografias. Terá o jovem paciência para ler a trajetória detalhada de um personagem, com todas as suas alegrias e tristezas, com direito a moral da história, no final? Duvido muito. Mas sigo me divertindo e já pensando em como me adaptar ao que já estão chamando de “leitura otimizada”. A mesma reportagem cita que a editora americana Serial Box resolveu tratar livro como tela: “chama roteiristas, que criam cada obra como a temporada de uma série e reproduzem nos capítulos a estrutura de um episódio de TV. Entregam o livro em partes, que chegam via App e só depois são reunidos em papel.” Confesso que não entendi muito bem. E, enquanto existir a assinatura do jornal em papel, sigo acreditando na profundidade das histórias dos livros e na beleza de folhear cada capítulo na era do Kindle. Mas prometo que vou me aprofundar no assunto e treinar o cérebro para essa novidade. Precisamos aprender, cada vez mais, a nos comunicar com essa geração tão distraída.
* Gisele Macedo é jornalista formada pela UERJ, tem 43 anos e atua há mais de 20 como gestora de conteúdo, redatora, roteirista e escritora de livros e publicações institucionais. Apaixonada pela leitura de todo o tipo, sempre gostou de “brincar” com as palavras. Eclética por natureza, adora contemplar um belo pôr do sol, ouvir música, conversar com amigos e estar perto da família. Acha que todo mundo tem uma boa história para contar, mas cada história pode ser contada de mil maneiras…
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